Na infância não tinha acesso à leitura
em casa, meus pais eram muito humildes e não sobrava dinheiro para comprar
livros de leitura, por isso meu primeiro contato com leitura foi na escola.
Lembro-me com saudade do livro "A ilha perdida", da coleção Vagalume.
Tamanho foi o encantamento com as aventuras e descobertas das personagens do
livro que depois quis ler tantos outros da mesma coleção.
Felizmente os livros hoje em dia são
bem mais acessíveis, mas ainda é preciso muito incentivo, já que, em questão de
entretenimento e diversão, concorrem com tantos outros recursos tecnológicos e
imediatos.
A descoberta da leitura foi tão mágica na
minha vida que não parei mais de ler. Os livros são meus companheiros, leio
muitos livros por ano e sempre que posso mergulho em um mundo de emoções e
descobertas que só pode ser traduzido no universo maravilhoso de ler.
Como professora procuro despertar o
interesse pela leitura de meus alunos. Apesar de não termos uma biblioteca
organizada e um espaço físico adequado, levo para a sala de aula
"caixas" com livros de diversas histórias (inclusive os da série Vagalume)
e leio trechos de alguns livros para eles. É muito gratificante perceber que
alguns alunos estão gostando de ler e que até pedem livros de presente aos
pais. Tenho certeza de que a história de algum livro também marcará a infância
deles...
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Sequência Didática do texto: "Avestruz" - Mario Prata
Público Alvo: 5ªsérie/6ºano Tempo previsto: 4 aulas
Conteúdo: elementos da narrativa, descrição,
produção de parágrafo descritivo, adjetivos.
Competências e
habilidades: ler
textos narrativos descritivos, reconhecer elementos da narrativa e da
descrição, produzir pequeno texto descritivo, analisar o emprego do adjetivo e
da locução adjetiva, localizar e comparar informações e desenvolver a
competência leitora.
Estratégias: leitura de texto narrativo,
identificação de elementos descritivos no texto narrativo, produção de pequenos
textos descritivos.
Recursos: texto, dicionário, imagem, letras de
música, notícia.
Avaliação: ocorrerá durante todo o processo
desde a participação oral até as questões voltadas as estratégias de leitura,
bem como a produção descritiva.
Avestruz
Mário
Prata
O filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos
seus dez anos, uma avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento em
Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era
minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu
as avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o
garoto.
Culpado, fui até o local saber se eles vendiam filhotes
de avestruzes. E se entregavam em domicílio.
E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar
aquilo de ave. A avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de
criar a avestruz, deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve
ter criado primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe
quanto pesa uma avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha
amiga. E a altura pode chegar a quase três metros. 2,7 para ser mais exato.
Mas eu estava falando da sua criação por deus. Colocou
um pescoço que não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter
estoque de asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até
sabiamente para evitar que saíssem voando em bandos por aí assustando as demais
aves normais.
Outra coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou
apenas dois dedos em cada pé. Sacanagem, Senhor!
Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma ave
ou um camelo. Tanto é que logo depois, Adão, dando os nomes a tudo que via pela
frente, olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus
australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele
pescoço fino em forma de salsicha.
Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos
proporcionais ao seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava
o criador que elas vivem até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os
quarenta, entrando depois na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma avestruz
com TPM é perigosíssima!
Podem gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao
garoto, filho da minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando
aquele bando de avestruzes correndo pela sala do apartamento.
Ele insiste, quer que eu leve uma avestruz para ele de
avião, no domingo. Não sabia mais o que fazer.
Foi quando descobri que elas comem o que encontram pela
frente, inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por
exemplo. máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e,
principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.
Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse que
troca o avestruz por cinco gaivotas e um urubu.
Pedi para a minha amiga levar o garoto num psicólogo.
Afinal, tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.
PRATA, Mário. Avestruz. 5ª série/ 6ºano vol. 2
Caderno aluno p. 9
Caderno do Professor p. 18
Antes da leitura:
I - Ativação dos conhecimentos
prévios, antecipação ou predição de conteúdos:
. Alguém conhece ou já viu um avestruz? Onde viram?
. Como você descreveria um avestruz?
. Seria possível ter um avestruz como um animal de
estimação?
. O texto que será lido tem como título: “AVESTRUZ”. Onde
você acha que se passará a história?
Durante a leitura:
Iniciar a leitura do texto, mas ler apenas o primeiro
período.
. Quem pediria um avestruz como presente de aniversário?
. Vocês acham que o menino ganhará o presente?
II – Localização, comparação de informações:
. Onde foi que ele viu a avestruz?
. O que foi que chamou a atenção dele?
Prosseguir a leitura até o terceiro
parágrafo.
. Onde mora o menino?
E onde mora o narrador?
.Qual o peso e a
altura média de uma avestruz?
.Seria possível ter
uma ave desse porte num apartamento?
.A que o narrador
compara o avestruz? E o seu pescoço?
. Como o avestruz é descrito no texto?
. Faça o desenho de um avestruz, de acordo com a descrição
do texto.
. Agora observe a imagem e responda:
a)Qual a semelhança entre a imagem e o seu
desenho?
b)Aponte diferenças entre seu desenho e a imagem acima.
Continuar a leitura até o final.
Depois da leitura:
III - Produção de inferências locais
e globais:
.Existe alguma
palavra no texto que vocês não conheçam o significado? ( TPM, menopausa,
atrofiada, gigolô ...) Procure no dicionário.
. O que o autor quis dizer com as orações:
a)“Uma fêmea de avestruz com TPM é perigosíssima!”
b)“Afinal,
tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz”?
. Quais argumentos do narrador convenceram o menino a
desistir do presente?
IV – Recuperação do contexto de
produção de texto e definição de finalidades e metas:
. O que vocês acharam do garoto do texto?
. O texto lido é uma crônica? Apontem duas características
desse tipo de texto.
. Você tem ou teve algum animal de estimação? Faça um
pequeno texto descrevendo-o.
. Circule os adjetivos que você utilizou para descrever em
seu texto.
V – Percepção de intertextualidade e
interdiscursividade:
. Qual a relação deste texto com as músicas abaixo?
Tava cansado de
viver lá na roça
De andar só de carroça, resolvi então mudar
Vendi meu sítio, vendi vaca e galinha
E peguei tudo que eu tinha na cidade fui morar
O meu dinheiro tava num banco guardado
Veio um cara engomado disse vou te dar uma luz
Mais que depressa peguei o meu capital
Fiz um negocio legal comprei tudo em avestruz
O paladar desse bicho é aguçado
Ta no seu papo guardado o dinheiro que eu pus
Avestruz hoje eu to enrolado
Avestruz que bichinho esfomeado
Avestruz come terra e come gado
Avestruz realmente to quebrado
Pra me ajudar a tocar este negocio
Arrumei foi muito sócio veja só no que foi dar
Cabeleireira empenhou sua tesoura
Diarista a vassoura hoje vive a reclamar
Tinha um amigo que dizia ser esperto
Teve prejuízo certo hoje ta desesperado
Foi a motoca, foi a égua e a poupança
Realmente foi lambança, só deu cheque carimbado
Até o vovô que guardava um dinheirinho
Comprou quatro filhotinhos lá se foi seu ordenado
Avestruz hoje eu to enrolado
Avestruz que bichinho esfomeado
Avestruz come terra e come gado
Avestruz realmente to quebrado
Neste negócio de comprar este bichinho
Fiquei falando sozinho e agora o que fazer
Comeu o carro, foi também a camioneta
Só não foi a bicicleta pois não consegui vender
Era feliz e vivia controlado
Com a família do lado não devia pra ninguém
Na quebradeira que esse bicho me deixou
Minha mulher me abandonou e meus amigos tamém
To apertado igual um pinto no ovo
Este bicho é um estorvo, nem me fale nesse trem
Avestruz hoje eu to enrolado
Avestruz que bichinho esfomeado
Avestruz come terra e come gado
Avestruz realmente to quebrado
é grande dá pra montar; com um chute pode matar; quando corre, chega a 70 Km por hora;
é capaz de comer pedra, arame, galho, grama, relógio, anel, bola de gude COME TUDO! X - Tudo é pernudo, pescoçudo, tem pena macia põe um ovo enorme que parece melancia
VI – Elaboração de apreciações
relativas a valores éticos e/ou políticos:
. O que pensam sobre os pais que dão tudo o que os filhos
pedem?
. E se o menino persistisse na ideia de ter o avestruz? Como
seria?
. Leia a notícia a seguir e analise com o que você respondeu
anteriormente.
Família divide espaço com passarão gigante
Ave gigantesca adora sentar na sala
de estar com os "irmãos" e assistir televisão
Do R7
Reprodução/Metro UK
Isso sim é uma história EMUcionante - perceba que, enquanto a família não vê, Ian não solta a franga de jeito nenhum
Muitas
famílias não estão completas sem algum bicho de estimação. Cachorros, gatos,
peixinhos, pássaros e até tartarugas.
A
família Newby, que mora na Inglaterra, decidiu ter um animal um tanto quanto
exótico em casa: um emu.
Os
emus são as segundas maiores aves do mundo, perdendo apenas para os avestruzes.
Beaky,
como é chamada a grande ave, divide espaço com os seis filhos do casal Ian e
Lisa Newby.
O
mais curioso é que Beaky gosta de se sentar na sala com a família e assistir
TV.
O
animal pesa quase 90 kg e come grandes quantidades de brócolis e couve-flor
todos os dias.
Ian,
que tem um projeto para salvar animais, conta como Beaky entrou na vida de sua
família.
-
Minha mulher meu deu a Beaky quando ela ainda era um ovo, dois anos e meio
atrás.
Beaky
adora correr com as crianças e até divide brinquedos com elas. O mais velho da
família tem 7 anos de idade e o mais novo apenas 10 meses.
Além
de comer brócolis, Beaky consome quase 6 kg de milho por semanas.
-
Ela vai comer basicamente qualquer coisa que deixarmos. As leis do Reino Unido
permitem emus como animais domésticos.
Ian
explica, no entanto, que não é qualquer um que pode criar um bicho desses.
-
Eles vivem 60 anos, crescem muito fortes e nem todos são tão amigáveis quanto a
nossa especial Beaky. Quando ela fica feliz, vira a “Beaky Kung-Fu” e começa a
correr pelo jardim. Ela pula muito alto e joga as pernas para cima.
Bom, um ovo do bicho alimenta a
família inteira por uma semana, não é?
O papel da escola no
ensino da leitura deve ser entendido como um processo que tem início na
alfabetização, mas não tem fim, ou seja, continua por toda a vida.
Eu acredito que os professores já
trabalham com objetivos entre eles a
leitura e a escrita, para que os alunos desenvolvam suas habilidades e
competências.
Além
disso, é sempre bom lembrar que a leitura, seja ela oral ou visual, não
constitui uma disciplina. Uma vez que não possui um conteúdo específico, não
pode ser ensinada separadamente como a maioria das outras disciplinas do
currículo.
Ao contrário, a leitura faz parte de todas as disciplinas
e deveria ser mais frequentemente encarada como um instrumento para facilitar e
promover muitos dos tipos de aprendizagem, nos diferentes campos do
conhecimento.
Aos 95 anos, aposentado de Sorocaba diz ter alcançado a marca de dez mil livros lidos
Cid Odin Arruda diz que um de seus recordes foi terminar um livro de 1.110 páginas em apenas cinco dias
16 de maio de 2013 | 20h 29
José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo
SOROCABA - O aposentado Cid Odin Arruda, de Sorocaba, acaba de atingir um recorde: aos 95 anos, ele alcançou a marca de dez mil livros lidos. Simbolicamente, o décimo milésimo volume foi retirado no último dia 9 do Gabinete de Leitura Sorocabano, quando Arruda levou para casa o volumoso “O Cemitério de Praga”, do escritor Umberto Eco. “Estava curioso, mas fiquei um pouco decepcionado com a história”, comentou três dias depois, com a leitura quase no final. A marca obtida pelo homem que se diz “viciado em livros” é simbólica. A rigor, ele acha que leu alguns milhares de títulos a mais. “Antes, minha média era de quatro livros por semana”, diz.
Epitácio Pessoa/Estadão
Aposentado ganhou medalha cultural em 2008
O aposentado não guarda livros em casa. Ele prefere viajar em busca de boas leituras e se tornou conhecido em bibliotecas até de outros Estados, como o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Em Guarapari (ES), esteve 22 vezes e em todas visitou a biblioteca. Funcionários desses locais veem-se no dilema de encontrar um livro que Arruda ainda não tenha lido e já se referem a ele como o “senhor Biblioteca”. No Gabinete de Leitura, em Sorocaba, fundado em 1866, ele é um dos sócios vivos mais antigos. Em 2008, foi agraciado com a medalha cultural concedida a pessoas compromissadas com a cultura. O problema é que ele já leu quase todo o acervo, segundo a funcionária Nilcéia Alves dos Santos. “Quando ele pede um livro, tenho de buscar lançamentos.”
Na companhia da mulher, a professora Elza Bertazini Bracher, de 86 anos, também amante dos livros, Arruda viaja entre oito e dez vezes por ano e escolhe como destino cidades que têm bibliotecas. Ele prefere edições volumosas, mas com personagens bem definidos. Um de seus recordes foi um livro de 1.110 páginas lido em cinco dias. “Sou ruim para nomes, mas lembro que a coleção mais detalhada de Os Miseráveis (Vitor Hugo), com sete volumes, foi lida em uma semana.”
O hábito da leitura vem de família. O avô, José Antão de Arruda, foi o primeiro bibliotecário do Gabinete Sorocabano, cargo depois exercido por seu pai, José Odin de Arruda. Era função do bibliotecário indicar livros para estudantes e sócios. “Como meu pai não tinha tempo de ler todos, pegava um pacote de livros e pedia que eu lesse e contasse a história para ele.” O então menino de 12 anos pegou gosto. “Lia às vezes um livro inteiro no dia e, quando eu dizia que era ruim, meu pai vetava.” Ele também era incentivado pela mãe, professora.
Apesar da paixão pela leitura, Arruda não gostava de estudar e, ao contrário dos pais, que hoje dão nome a escolas da cidade, não se tornou professor. “Sempre preferi o comércio e só estudei até o primeiro ano da antiga escola normal.” Arruda leu todos os clássicos, de “Os Lusíadas” (Camões) a “Dr. Jivago” (Boris Pasternak) e a Bíblia completa, várias vezes. Entre os preferidos estão obras que versam sobre reis, imperadores e faraós. Entre os brasileiros, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Jorge Amado. “Oh, caboclo bom!”, diz sobre o baiano. Sobre os autores modernos, uma crítica. “Eles criam personagens demais, deixam o livro difícil de entender.” Arruda ainda toma ônibus para ir à biblioteca e se considera um dos mais antigos leitores do Estadão. “Ele é um fã, a primeira coisa que lê na biblioteca é o jornal”, diz dona Elza.
"Na minha casa, todo mundo
lia. Eu comecei aos 4 anos e o mundo se abriu para mim. Aprender a ler é uma
grande aventura. Abre os olhos, os ouvidos, a cabeça. Cria interesses, desperta
a curiosidade. A leitura dá uma chance às melhores emoções. Trata-se de uma
doença infecciosa - uma vez exposta a essa contaminação, a maioria vai gostar.
O livro é o melhor amigo de uma pessoa. Um brinquedo diferente, que nunca
acaba. Um objeto mágico, maior por dentro do que por fora. Cabe um dinossauro,
um castelo, um trem. E só abre quando der vontade." (Tatiana Belinky)
domingo, 16 de junho de 2013
Sequência didática do conto “Pausa” –
Moacyr Scliar
Público alvo:
8ª série/9º ano
Tempo previsto:
4 aulas
Objetivo:
explorar, desenvolver e ampliar a capacidade de leitura reconhecendo a
tipologia narrativa: conto e despertar o interesse pela leitura.
Conteúdos:
elementos da narrativa; características do gênero conto; pontuação;
vocabulário.
Competências e
habilidades: inferir, reconhecer e analisar as características
do gênero e desenvolver a competência leitora.
Estratégias:
leitura compartilhada, análise e comparação do conto através das diversas
estratégias de leitura.
Recursos:
texto, dicionário, letras de música, imagens, trecho de filme.
Avaliação:
ocorrerá durante todo o processo desde a participação oral até as questões
voltadas as estratégias de leitura.
Capacidades de
compreensão
I - Ativação de conhecimentos prévios
Quanto
ao portador: O professor pode
iniciar mostrando aos alunos a obra “Pausa - 25 contos de Moacyr Scliar” e
levantar alguns questionamentos:
* Como se trata de um audiolivro, que diferenças podem
ser encontradas nesse formato em relação ao livro escrito?
* Qual a sua função social? Esse formato pode atender
algum público específico?
Quanto
ao autor e sua obra:
* Já ouviram falar do autor?
* Já leram algum texto de sua autoria?
Quanto
ao gênero:
* O que você sabe sobre o gênero “conto”? Que
características apresenta esse tipo de
narrativa?
* Você se recorda de algum conto que já tenha lido ou
ouvido?
Outros
indicadores:
* Atentar ao título, ilustração, ressaltando que os
mesmos remetem ao conto sobre o qual farão a leitura.
* Esclarecer que essa estratégia é comum em
coletâneas.
* Leitura da contracapa a fim de introduzi-los na
temática da coletânea e no estilo do autor.
II - Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades
dos textos
Esclarecer
aos alunos que o texto base estará no formato escrito.
* Observar
a imagem e responder:
a) O que significa?
b) Quando utilizamos a pausa?
c) A pausa é importante? Justifique.
Levantamento de
hipóteses a partir da leitura do título do texto base:
* Por meio do título é possível antecipar o conteúdo
do texto?
* Tendo como base esse título, o que é possível
imaginar que acontecerá na história?
Pausa -
Moacyr Scliar
Às sete horas o despertador tocou.
Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se.
Vestiu-se rapidamente e sem ruído.
Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:
— Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as
sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto
uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher com azedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório
— disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
— Por que não vens almoçar?
— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel
pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da
garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as
barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa
quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente
duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os
lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando
um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo
hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último
andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um
aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma
bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas,
tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e
colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um
suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama,
comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho,
deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo,
a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando,
os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no
chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por
um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da
testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se
e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: índio acabara de trespassá-lo com a
lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu
o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a
bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco
em silêncio.
- Até domingo que vem, seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
(in: Alfred Bosi,org. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo:
Cultrix, 1977. P. 275)
III - Levantamento
e checagem de hipóteses serão feitos ao longo da leitura.
Leitura do
primeiro, segundo e terceiro parágrafo.
* Por que a personagem colocou o relógio para
despertar?
* Em que dia da semana, provavelmente tenha se
passado esse fato? Por quê?
Leitura do 4º ao 10º parágrafos.
* Por que ele sai cedo todos os domingos?
* Onde ele poderia ir?
* O que você entende por “azedume na voz”?
* Como você imagina que seja a esposa?
Leitura do 11º e 12º parágrafos.
* Por que ele estacionou numa travessa quieta, a duas
quadras de seu destino?
* Qual seria o seu destino?
* Por que ele hesita e entra no hotel furtivamente?
Leitura do 14º e 15º parágrafos.
* Por que o gerente o conhece?
* Por que o chama de Isidoro?
* O que seria “o de sempre” a que o gerente se
refere?
Leitura dos parágrafos 16 e 17.
* Quem seriam as duas mulheres?
* Você acha que ele entrou no quarto de uma delas?
Leitura dos parágrafos 18 e 19.
* Por que ele teria fechado as cortinas e colocado o
relógio para despertar?
Continuação da leitura até o 31º parágrafo.
* Para onde ele deve ir depois de sair do hotel?
Conclusão da leitura do parágrafo 32.
* Após a leitura do conto, suas hipóteses foram
confirmadas?
IV – Localização,
comparação de informações e generalização.
* Qual a reação da esposa ao perceber que o marido
sairá mais um domingo? Retire um trecho que comprove sua resposta?
* O marido se justifica de maneira amigável?
Justifique com um trecho do texto.
* A personagem Samuel parece ser uma pessoa cansada,
de certa idade, embora jovem. Localize no texto as características que
comprovem a afirmação acima.
* Ao refletir a respeito do texto, qual a relação com
a letra da música “Epitáfio”, onde o eu lírico reclama que não teve tempo para
parar e viver a vida.
* Qual o sentido das palavras em destaque na frase?
“As ruas ainda estavam úmidas de cerração”
“ Olhou para os lados e entrou furtivamente”
* A palavra em destaque foi empregada a fim de evitar
a repetição de uma palavra já mencionada anteriormente. Qual?
– “Aqui, meu bem”! - uma gritou, e riu: um
cacarejo curto.
* Sublinhe e procure no dicionário as palavras
desconhecidas do texto.
VI - Produção de
inferências globais.
* Na frase “A mulher coçava a axila esquerda.” O que
denota essa atitude da esposa?
* Como seria o relacionamento entre o casal? De
cumplicidade e respeito ou indiferença? Que indícios o levam a levantar essa
hipótese?
* Qual é o significado da palavra “cacarejo” dentro
do texto?
Capacidades de
apreciação e réplica do leitor
VII –
Recuperação do contexto de produção de texto e definição de finalidades e
metas
* Qual a intenção do autor ao descrever a rotina da
personagem, inclusive aos domingos, preocupando-se com os detalhes de sua
rotina semanal?
* No decorrer do texto, percebemos que há um momento
em que Samuel é tratado por outro nome, Isidoro. Por que ele usa outro nome?
* Realize uma pesquisa sobre o autor Moacyr Scliar e
comente suas impressões sobre ele.
* Que tipo de informação você obteve deste texto?
VIII –
Percepção de relações de intertextualidade e interdiscursividade
* Leitura do texto: “Circuito fechado”, de Ricardo
Ramos que também aborda o cotidiano, a rotina de uma pessoa. Ressaltar que o
conto Pausa, apesar de mostrar a fuga de uma rotina, não se desvincula dela, pois
usa o relógio para controlar o tempo, o espaço que inicia a história é o mesmo
que conclui.Se você tivesse oportunidade de dar uma pausa em
sua vida em qual situação você pausaria? Justifique.
CIRCUITO FECHADO
Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova,
creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água,
cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente.
Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira,
níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras,
xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa
e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco
de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone,
relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone,
papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de
papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo,
quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira,
copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dente, pasta,
água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone
interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis,
prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,
papel e caneta. Carro. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.
Mesas, cadeiras, prato, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro.
Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama,
chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.
Chinelos.
* Escute a canção abaixo e responda: Até que ponto o
texto “Pausa”, de Scliar dialoga com a canção “Pausa para um choro”, de Zeca
Brasil. Que diferença podemos perceber em relação à pausa dada pelos dois
autores?
Quero uma pausa pra ouvir
a canção do silêncio
O pulsar do compasso
Do nosso coração
quero um espaço de tempo
Que caiba o sentimento
Que eu tentei com palavras
Encontrar tradução
Pra te dizer que o amor que eu sinto
É mais lindo que um jardim
Na primavera
Tem mais brilho que uma fonte
De água pura, cristalina
É minha sina te amar
* Na agitação de seu dia-a-dia, há algum momento que
você “para”? O que você faz nesse momento? Você acha importante esse intervalo?
Por quê?
IX – Elaboração de apreciações estéticas e/ou
afetivas e relativas a valores éticos e/ou políticos
* O que você achou do texto? Comente.
* A personagem Samuel tinha o hábito de ir ao hotel
todos os domingos para descansar. Em sua opinião, o que o levou a fazer isso?
* A atitude de Samuel foi correta? Justifique.
* O que você acha da relação entre Samuel e a esposa?
** Em muitas famílias, o domingo é o único dia que a
família tem para se reunir, aumentando os laços de afinidade familiar. Você
acredita que essa atitude da personagem poderia de alguma forma prejudicar os
laços afetivos da família? Por quê?