Sequência didática do conto “Pausa” –
Moacyr Scliar
Público alvo:
8ª série/9º ano
Tempo previsto:
4 aulas
Objetivo:
explorar, desenvolver e ampliar a capacidade de leitura reconhecendo a
tipologia narrativa: conto e despertar o interesse pela leitura.
Conteúdos:
elementos da narrativa; características do gênero conto; pontuação;
vocabulário.
Competências e
habilidades: inferir, reconhecer e analisar as características
do gênero e desenvolver a competência leitora.
Estratégias:
leitura compartilhada, análise e comparação do conto através das diversas
estratégias de leitura.
Recursos:
texto, dicionário, letras de música, imagens, trecho de filme.
Avaliação:
ocorrerá durante todo o processo desde a participação oral até as questões
voltadas as estratégias de leitura.
Capacidades de
compreensão
I - Ativação de conhecimentos prévios
Quanto
ao portador: O professor pode
iniciar mostrando aos alunos a obra “Pausa - 25 contos de Moacyr Scliar” e
levantar alguns questionamentos:
* Como se trata de um audiolivro, que diferenças podem
ser encontradas nesse formato em relação ao livro escrito?
* Qual a sua função social? Esse formato pode atender
algum público específico?
Quanto
ao autor e sua obra:
* Já ouviram falar do autor?
* Já leram algum texto de sua autoria?
Quanto
ao gênero:
* O que você sabe sobre o gênero “conto”? Que
características apresenta esse tipo de
narrativa?
* Você se recorda de algum conto que já tenha lido ou
ouvido?
Outros
indicadores:
* Atentar ao título, ilustração, ressaltando que os
mesmos remetem ao conto sobre o qual farão a leitura.
* Esclarecer que essa estratégia é comum em
coletâneas.
* Leitura da contracapa a fim de introduzi-los na
temática da coletânea e no estilo do autor.
II - Antecipação ou predição de conteúdos ou propriedades
dos textos
Esclarecer
aos alunos que o texto base estará no formato escrito.
* Observar
a imagem e responder:
a) O que significa?
b) Quando utilizamos a pausa?
c) A pausa é importante? Justifique.
Levantamento de
hipóteses a partir da leitura do título do texto base:
* Por meio do título é possível antecipar o conteúdo
do texto?
* Tendo como base esse título, o que é possível
imaginar que acontecerá na história?
Pausa -
Moacyr Scliar
Às sete horas o despertador tocou.
Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se.
Vestiu-se rapidamente e sem ruído.
Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:
— Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as
sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto
uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher com azedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório
— disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
— Por que não vens almoçar?
— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel
pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da
garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as
barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa
quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente
duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os
lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando
um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo
hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último
andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um
aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma
bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas,
tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e
colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um
suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama,
comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho,
deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no
chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por
um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da
testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se
e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas.
Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: índio acabara de trespassá-lo com a
lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu
o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a
bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco
em silêncio.
- Até domingo que vem, seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os
guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
(in: Alfred Bosi,org. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo:
Cultrix, 1977. P. 275)
III - Levantamento
e checagem de hipóteses serão feitos ao longo da leitura.
Leitura do
primeiro, segundo e terceiro parágrafo.
* Por que a personagem colocou o relógio para
despertar?
* Em que dia da semana, provavelmente tenha se
passado esse fato? Por quê?
Leitura do 4º ao 10º parágrafos.
* Por que ele sai cedo todos os domingos?
* Onde ele poderia ir?
* O que você entende por “azedume na voz”?
* Como você imagina que seja a esposa?
Leitura do 11º e 12º parágrafos.
* Por que ele estacionou numa travessa quieta, a duas
quadras de seu destino?
* Qual seria o seu destino?
* Por que ele hesita e entra no hotel furtivamente?
Leitura do 14º e 15º parágrafos.
* Por que o gerente o conhece?
* Por que o chama de Isidoro?
* O que seria “o de sempre” a que o gerente se
refere?
Leitura dos parágrafos 16 e 17.
* Quem seriam as duas mulheres?
* Você acha que ele entrou no quarto de uma delas?
Leitura dos parágrafos 18 e 19.
* Por que ele teria fechado as cortinas e colocado o
relógio para despertar?
Continuação da leitura até o 31º parágrafo.
* Para onde ele deve ir depois de sair do hotel?
Conclusão da leitura do parágrafo 32.
* Após a leitura do conto, suas hipóteses foram confirmadas?
* Após a leitura do conto, suas hipóteses foram confirmadas?
IV – Localização,
comparação de informações e generalização.
* Qual a reação da esposa ao perceber que o marido
sairá mais um domingo? Retire um trecho que comprove sua resposta?
* O marido se justifica de maneira amigável?
Justifique com um trecho do texto.
* A personagem Samuel parece ser uma pessoa cansada,
de certa idade, embora jovem. Localize no texto as características que
comprovem a afirmação acima.
* Ao refletir a respeito do texto, qual a relação com
a letra da música “Epitáfio”, onde o eu lírico reclama que não teve tempo para
parar e viver a vida.
Epitáfio
Titãs
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
Até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...
O acaso
vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar…
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar… (2x)
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...
Composição: Sérgio Britto
V - Produção de
inferências locais.
* Qual o sentido das palavras em destaque na frase?
“As ruas ainda estavam úmidas de cerração”
“ Olhou para os lados e entrou furtivamente”
* A palavra em destaque foi empregada a fim de evitar
a repetição de uma palavra já mencionada anteriormente. Qual?
– “Aqui, meu bem”! - uma gritou, e riu: um
cacarejo curto.
* Sublinhe e procure no dicionário as palavras
desconhecidas do texto.
VI - Produção de
inferências globais.
* Na frase “A mulher coçava a axila esquerda.” O que
denota essa atitude da esposa?
* Como seria o relacionamento entre o casal? De
cumplicidade e respeito ou indiferença? Que indícios o levam a levantar essa
hipótese?
* Qual é o significado da palavra “cacarejo” dentro
do texto?
VII –
Recuperação do contexto de produção de texto e definição de finalidades e
metas
* Qual a intenção do autor ao descrever a rotina da
personagem, inclusive aos domingos, preocupando-se com os detalhes de sua
rotina semanal?
* No decorrer do texto, percebemos que há um momento
em que Samuel é tratado por outro nome, Isidoro. Por que ele usa outro nome?
* Realize uma pesquisa sobre o autor Moacyr Scliar e
comente suas impressões sobre ele.
* Que tipo de informação você obteve deste texto?
VIII –
Percepção de relações de intertextualidade e interdiscursividade
* Leitura do texto: “Circuito fechado”, de Ricardo
Ramos que também aborda o cotidiano, a rotina de uma pessoa. Ressaltar que o
conto Pausa, apesar de mostrar a fuga de uma rotina, não se desvincula dela, pois
usa o relógio para controlar o tempo, o espaço que inicia a história é o mesmo
que conclui.Se você tivesse oportunidade de dar uma pausa em
sua vida em qual situação você pausaria? Justifique.
CIRCUITO FECHADO
Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova,
creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água,
cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente.
Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira,
níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras,
xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Mesa
e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco
de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
quadros, papéis, telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone,
relatórios, cartas, notas, vale, cheques, memorando, bilhetes, telefone,
papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, bloco de
papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo,
quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeira,
copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dente, pasta,
água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone
interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis,
prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,
papel e caneta. Carro. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.
Mesas, cadeiras, prato, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Poltrona, livro.
Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama,
chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.
Chinelos.
Coberta, cama, travesseiro.
Ricardo Ramos. Circuito fechado: contos, 1978.
http://www.pucrs.br/gpt/substantivos.php
Ricardo Ramos. Circuito fechado: contos, 1978.
http://www.pucrs.br/gpt/substantivos.php
* Escute a canção abaixo e responda: Até que ponto o
texto “Pausa”, de Scliar dialoga com a canção “Pausa para um choro”, de Zeca
Brasil. Que diferença podemos perceber em relação à pausa dada pelos dois
autores?
Pausa para um choro
Pausa Para Um Choro
Quero uma pausa pra ouvir
a canção do silêncio
O pulsar do compasso
Do nosso coração
quero um espaço de tempo
Que caiba o sentimento
Que eu tentei com palavras
Encontrar tradução
Pra te dizer que o amor que eu sinto
É mais lindo que um jardim
Na primavera
Tem mais brilho que uma fonte
De água pura, cristalina
É minha sina te amar
a canção do silêncio
O pulsar do compasso
Do nosso coração
quero um espaço de tempo
Que caiba o sentimento
Que eu tentei com palavras
Encontrar tradução
Pra te dizer que o amor que eu sinto
É mais lindo que um jardim
Na primavera
Tem mais brilho que uma fonte
De água pura, cristalina
É minha sina te amar
Composição: Zeca Brasil
* Qual a relação deste texto com o filme “Click”?
* Na agitação de seu dia-a-dia, há algum momento que
você “para”? O que você faz nesse momento? Você acha importante esse intervalo?
Por quê?
IX – Elaboração de apreciações estéticas e/ou
afetivas e relativas a valores éticos e/ou políticos
* O que você achou do texto? Comente.
* A personagem Samuel tinha o hábito de ir ao hotel
todos os domingos para descansar. Em sua opinião, o que o levou a fazer isso?
* A atitude de Samuel foi correta? Justifique.
* O que você acha da relação entre Samuel e a esposa?
** Em muitas famílias, o domingo é o único dia que a
família tem para se reunir, aumentando os laços de afinidade familiar. Você
acredita que essa atitude da personagem poderia de alguma forma prejudicar os
laços afetivos da família? Por quê?
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